sábado, abril 19th, 2003

pascoa

Estava pensando na Páscoa e em como ela já está quase aí. Isso me faz recordar coisas boas da minha infância. Bem… não posso dizer que todas as coisas foram boas em se tratando de Páscoa. Na realidade meu primeiro contato com ela foi bastante ruim.

Um dia, quando eu tinha 2 anos, meus pais me disseram:
– Hoje o coelhinho da páscoa veio e trouxe uns ovinhos de chocolate pra você. A gente não sabe onde ele escondeu. Você vai ter que encontrar.

Não entendi bem a relação entre a páscoa, os ovinhos e o coelho, mas sabia muito bem o que era chocolate. Saí correndo como um louco pela casa, não cabendo em mim de tanta felicidade. Não fazia mal se um coelhinho ou um gatinho ou qualquer outro bichinho os tivesse trazido, o que eu queria mesmo era só encontrar os benditos ovinhos.

No entanto, em minha mente infantil, imaginei que o famoso coelhinho não deveria ter mais do que alguns centímetros de altura e que por isso não poderia trazer mais do que uns poucos gramas de chocolate. Para minha total surpresa encontrei o que me parecia uma enorme cesta cheia de enormes ovos de chocolate (lembre-se que eu era bem pequeno e mesmo um ovo normal me pareceria enorme), totalmente incompatível com o volume máximo que o pequeno mamífero poderia suportar, mesmo que ele fosse o Sansão dos coelhos.

Extrapolando a altura do coelho para o tamanho exigido pela tarefa do transporte dos ovos, concluí que o animal deveria ter um tamanho animalescamente maior do que o de um coelho tradicional. Ficou-me claro, diante de tal fato, que a criatura que havia trazido os chocolates em nada se assemelharia ao inofensivo coelhinho, e nem ao menos faria parte daquela tímida espécie.

Dúvidas logo me assolaram a alma:
– Se a criatura não é quem ela diz ser, como posso acreditar que suas intenções sejam realmente pacíficas? Como posso crer que ela deseja somente doar ovos de chocolate para crianças sem pedir nada em troca?

E então, logo compreendi que se nem meus pais, que eram infalíveis perante meus olhos, perceberam que o terrível animal entrara em nossa casa e revirara nossos pertences, nossas vidas estariam correndo sério perigo caso a fera resolvesse voltar para cobrar sua dívida pascoalina.

Essa foi a minha primeira crise, e aconteceu numa Páscoa.
Bons tempos aqueles.
E eu ainda detesto coelhos.

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